Dra Mireille Vaz de Campos

HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA - CRM 12406 - RQE 22.965

Cuido de pacientes com anemia, alterações no ferro e trombose.

Vamos falar de trombofilia?

O nome é estranho, mas o assunto é importante — e prometo que vai ser leve.

O que é trombofilia?

Trombofilia é uma tendência do nosso sangue a formar coágulos com mais facilidade do que o normal. Quando o coágulo se forma dentro do vaso, chamamos de trombo. Filia significa tendência, então trombofilia é a tendência a formar trombos.

Imagina que o sangue, no nosso corpo, deveria circular tranquilamente pelas veias e artérias, sem interrupções — como se fosse o trânsito fluindo bem numa avenida sem acidentes. Mas, em algumas pessoas,esse sangue começa a se comportar como se houvesse um machucado, mesmo quando não existe nenhum. Ou seja, ele ativa o sistema de coagulação sem motivo aparente, como se estivesse tentando “tapar um buraco” na parede dos vasos sanguíneos que, na verdade, não está lá. 

Nessa situação, o sangue forma coágulos (ou trombos) onde não deveria. E é aí que mora o perigo: esses coágulos podem obstruir a passagem do sangue, causando uma trombose, o que pode ser grave e até levar a risco de óbito, dependendo do local onde isso acontece.

Mas o que são esses tais trombos? O que é trombose?

Trombo é o nome técnico do coágulo de sangue que se forma dentro do vaso. Diferente daquela casquinha de machucado que serve pra proteger, num episódio de trombose, o trombo pode entupir vasos e impedir que o sangue circule direito. Dependendo do local onde ele se forma, pode causar problemas sérios.

Normalmente, o sangue só deveria coagular quando acontece uma lesão, tipo um corte ou machucado. Quando isso acontece, o corpo reage rápido pra estancar o sangramento e “consertar” a parede do vaso sanguíneo.

Fique atento agora, vamos explicar como o trombo é formado;

  1. As plaquetas são como os tijolos da construção. Elas são as primeiras a chegar no local do “dano” e começam a se agrupar, formando uma espécie de “tapume” provisório.
  2. Depois, entra em ação a fibrina, uma proteína que age como se fosse o cimento. Ela cria uma rede grudenta que junta os tijolos (plaquetas), fixa tudo no lugar e deixa o coágulo mais resistente.
  3. Com o tempo, o organismo vem com o sistema fibrinolítico ou “pedreiro finalizador” (enzimas) e desfaz o excesso de trombo, deixando tudo como novo.

Esse processo é super importante — salva vidas todos os dias! 

Mas quando o sangue resolve iniciar essa “obra” sem necessidade, sem machucado nenhum, temos um problema. É como se o pedreiro decidisse fechar uma rua inteira com tijolo e cimento, sem buraco nenhum. E isso pode atrapalhar a circulação do sangue, levando à trombose.

As tromboses são problemas graves de saúde causados por trombos que obstruem um vaso sanguíneo. Quando um trombo bloqueia um vaso sanguíneo, pode interromper o fluxo normal de sangue e causar danos ao tecido por falta de oxigênio (isquemia).

O que são vasos sanguíneos?

Veias e artérias são tipos de vasos sanguíneos no corpo humano.

  • Artérias: São vasos que levam o sangue rico em oxigênio do coração para o resto do corpo. Elas são responsáveis por distribuir o sangue para todos os órgãos e tecidos do corpo, garantindo que recebam oxigênio e nutrientes essenciais. A coloração do sangue nas artérias é vermelho vivo.

 

  • Veias: São vasos que levam o sangue para o coração. Elas geralmente transportam sangue com menos oxigênio de volta aos pulmões e coração para ser oxigenado novamente. A coloração do sangue nas veias é um vermelho mais escuro.

Trombose arterial x trombose venosa: qual a diferença?

Pensa no sistema circulatório como uma grande estrada com dois tipos de pista:

  • Artérias são as pistas de alta velocidade, levando sangue rico em oxigênio do coração para o corpo. Quando um trombo se forma numa artéria, chamamos de  trombose arterial. Um êmbolo (pedaço de um trombo que se solta) em uma artéria pode bloquear o fluxo sanguíneo para um órgão ou tecido, causando danos graves, como um infarto – IAM (ataque cardíaco) ou um acidente vascular cerebral – AVC (derrame), e até pode levar à necessidade de amputação de parte do braço ou da perna.

  • Veias são as pistas de retorno, levando o sangue de volta ao coração. Quando o coágulo entope uma veia, especialmente nas pernas, temos a trombose venosa (TVP)  — e ela pode se complicar com embolia pulmonar (TEP), se o trombo resolver “viajar” até o pulmão. Os sinais da TVP na perna costumam ser dor e inchaço. Por outro lado, os sinais de TEP incluem falta de ar, dor para respirar, baixa de oxigênio, choque e até óbito. 

Ambos são sérios e precisam de cuidados médicos rápidos para evitar complicações graves.

 

E os tais eventos obstétricos? Por que são importantes para avaliar trombofilia?

Quando falamos de trombofilia, não dá pra esquecer da saúde reprodutiva da mulher. Em alguns casos, a trombofilia pode estar relacionada a eventos obstétricos, como:

  • Perda fetal inexplicada de um ou mais fetos morfologicamente normais, após a 10ª semana de gestação, documentada por ultrassonografia ou exame anatômico.
  • Parto prematuro de um ou mais recém-nascidos vivos, antes da 34ª semana de gestação, devido a:
    pré-eclâmpsia grave,
    eclâmpsia, ou
    insuficiência placentária comprovada.
  • Três ou mais abortos espontâneos consecutivos antes da 10ª semana de gestação, sem causa anatômica, genética ou hormonal identificada.

Aqui estamos falando da trombose que acontece enquanto a mulher gesta um bebê. Ou seja, o sangue que coagula demais pode afetar a gestação e prejudicar o desenvolvimento do bebê. Por isso, algumas mulheres são investigadas quando há repetição desses quadros. É importante entender que, se foi encontrado outro motivo para o evento, este não deve ser considerado um evento (exemplo: abortamento onde se encontra uma malformação do feto).

Aqui vale ressaltar que, se houver um evento na gestação, é importante enviar o produto do abortamento ou da placenta (no parto prematuro) para análise microscópica por patologista, que pode ajudar muito na identificação do que ocorreu.

 

 Quando se deve investigar trombofilia?

Nem toda trombose ou evento obstétrico significa que tem trombofilia. A investigação é indicada em situações específicas, como:

  • Trombose em pessoas jovens, sem fatores de risco evidentes
  • Trombose em locais incomuns, como veias do cérebro ou abdome
  • Histórico de 1 ou mais  episódio de trombose
  • Trombose associada à gestação ou uso de anticoncepcionais
  • História familiar forte de trombose em parentes de primeiro grau
  • Eventos obstétricos recorrentes e inexplicados

Pedir exames sem necessidade pode acabar trazendo resultados positivos que não têm relevância clínica — e isso só serve pra deixar você estressado(a) à toa. Ou seja, se você vai pedir um exame, tem que saber o que vai fazer com o resultado. Porque, se ele vier alterado e não mudar nenhuma conduta, talvez fosse melhor nem ter feito.

Diagnóstico não é caça ao tesouro. Não adianta sair procurando sem mapa, ou seja,  é preciso ter um motivo, um contexto, um plano de ação.

Agora, se você está passando por algo preocupante — como dor, inchaço na perna, falta de ar, dor no peito ou algum sintoma grave — não é hora de pensar em trombofilia, e sim de procurar atendimento médico o quanto antes. Isso é urgente! Primeiro a gente precisa identificar o problema e tratar adequadamente o evento agudo.

A investigação de trombofilia, se for indicada, vem depois — com calma, com planejamento, e no momento certo. Porque sim, ela pode esperar. O que não pode esperar é o tratamento do evento agudo, que acaba sendo feito pelo médico da emergência, da UTI, pelo cirurgião vascular (quando o evento é TVP), pelo pneumologista (quando o evento é TEP), ou por outros especialistas, já que pode ocorrer em qualquer local do corpo. 

Converse com seu médico!

Lembre-se, seu médico é a melhor fonte de orientação para o seu caso específico. Se você suspeita de anemia, não demore a procurar ajuda profissional. Um hematologista, especialista em doenças do sangue, pode fornecer o suporte e o tratamento necessários.

Esse texto faz parte de um blog de textos 

de orientações em saúde escrito pela 

Dra Mireille Guimarães Vaz de Campos

(médica Hematologista, CRM-GO 12406, RQE 22965).

 

Este texto não substitui a consulta médica detalhada 

e direcionada a um caso específico

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